ORIENTE ENCONTRA O OCIDENTE

ORIENTE:OCIDENTE - CAGE:OTTE

 

O concerto Oriente:Ocidente - Cage:Otte é uma estreia em Portugal e um dos pontos altos do festival Hans Otte : Sound of Sounds . É ainda a estreia de Margaret Leng Tan, uma das mais conceituadas intérpretes da música experimental americana, considerada pelo New York Times como “a rainha do toy piano”, e que trabalhou de forma próxima com John Cage.
Oriente:Ocidente - Cage:Otte é um concerto para dois pianos numa “sala de concertos preparada”, idealizado por Ingo Ahmels (conceção e design sonoro) em homenagem a Hans Otte, e que teve a sua estreia em 2006. Nessa ocasião a interpretação contou com dois pianistas masculinos, sendo agora intencional a escolha de duas mulheres pianistas para a interpretação das obras-primas para piano de John Cage e Hans Otte.
Margaret Leng Tan interpreta uma seleção da obra seminal para piano preparado Sonates and Interludes do compositor americano, enquanto a reconhecida pianista portuguesa Joana Gama interpreta uma seleção dos ciclos O Livro dos Sons e O Livro das Horas de Hans Otte

“O que faz o compositor com os sons? Utiliza-os para representar as suas ideias, conceitos, o seu programa político ou literário? Ou procura descobrir a própria natureza dos sons e desenvolvê-los no tempo?”

Hans Otte

Margaret Leng Tan

Margaret Leng Tan é uma das intérpretes mais conceituadas da Música Experimental Americana. Tan, cujo trabalho abrange teatro, coreografia, performance, foi saudada como a “diva do pianismo de vanguarda” pela The New Yorker. É conhecida como intérprete proeminente de John Cage, seu mentor durante onze anos.

 

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Margaret Leng Tan (Singapura, 1945) é uma das intérpretes mais conceituadas da Música Experimental Americana. Tan, cujo trabalho abrange teatro, coreografia, performance, foi saudada como a “diva do pianismo de vanguarda” pela The New Yorker. Ela é conhecida como uma intérprete proeminente de John Cage (seu mentor durante onze anos) e pelas suas performances de música americana e asiática que transcendem as fronteiras convencionais do piano. Ela também é uma das performers favoritas de George Crumb para quem este compôs Metamorphoses (Livro I), um novo ciclo de piano importante que a Sra. Tan executou com aclamação da crítica em toda a Europa, EUA, Austrália e Ásia desde 2017.

A primeira mulher a obter um doutoramento na Juilliard, Margaret Leng Tan é reconhecida como a primeira virtuosa do toy piano do mundo. A sua gravação inovadora de 1997, A Arte do Toy Piano (Point /Universal), transformou um humilde brinquedo num verdadeiro instrumento. Ela foi considerada "a rainha do toy piano" (The New York Times) e "a Rubenstein do toy piano" (The Independent, Reino Unido). A BBC, CNN, National Public Radio (EUA) traçaram o perfil da sua carreira como concertista de toy piano. A sua curiosidade estendeu-se também a outros instrumentos de brinquedo, corroborando o seu credo: “Más ferramentas exigem melhores habilidades” (Marcel Duchamp).

Tan recebeu o prémio National Endowment for the Arts 'Solo Recitalist. Em 2015, a Sra. Tan foi premiada com a Cultural Medallion, o maior prémio artístico de Singapura.

As principais obras escritas para Margaret Leng Tan incluem Curios de Phyllis Chen, uma peça de teatro musical solo para instrumentos de brinquedo encomendada pelo Festival Internacional de Artes de Singapura, em 2015. Dragon Ladies Don't Weep é um retrato dramático da artista com música de Erik Griswold. Trata-se da incursão de Tan no teatro em colaboração com Chamber Made, Melbourne. Em 2020, "Dragon Ladies" estreou no Arts Centre Melbourne na Asia TOPA, a Trienal de Artes Cénicas da Ásia-Pacífico que co-comissionou o trabalho com o Esplanade-Theatres on the Bay, de Singapura, onde esta peça teve a sua estreia asiática em 2021.

A prática iconoclasta de Margaret Leng Tan deu origem a dois documentários de longa-metragem: Sorceress of the New Piano (2004) de Evans Chan e Twinkle Dammit! (2020) de Chuang Xu, premiado como Melhor Realizador no NÒTFilm Festival (Itália) e Melhor Documentário Estrangeiro no Kadoma International Film Festival (Japão).

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“Sempre fui uma pessoa obcecada por sons, e nunca deixei de procurar a sensualidade, a clareza. A perceção sensorial dos sons: essa era a minha grande questão.”

Hans Otte

Joana Gama

Joana Gama é uma pianista portuguesa que se desdobra em múltiplos projetos quer a solo quer em colaborações nas áreas do cinema, da dança, do teatro, da fotografia e da música. Em Outubro de 2020, num concerto na Culturgest, estreou, em Portugal, o ciclo para piano O Livro dos Sons de Hans Otte.

 

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Joana Gama (Braga, 1983) é uma pianista portuguesa que se desdobra em múltiplos projetos quer a solo quer em colaborações nas áreas do cinema, da dança, do teatro, da fotografia e da música. Em 2010, na classe de António Rosado, concluiu o Mestrado em Interpretação na Universidade de Évora, onde defendeu, em 2017, a tese de doutoramento “Estudos Interpretativos sobre música portuguesa contemporânea para piano: o caso particular da música evocativa de elementos culturais portugueses” na Universidade de Évora, como bolseira da FCT.

Apesar de inicialmente ter decidido dedicar-se à música com o intuito de continuar a herança associada a uma ideia de música clássica - recitais de piano com repertório canónico - uma série de acontecimentos em cadeia foram-na desviando de um caminho que julgava ser o seu. Daí que os últimos anos - para além dos recitais, que continua a ter prazer em fazer - tenham incluído colaborações com Luís Fernandes, João Godinho, Rafael Toral, Drumming GP, Eduardo Brito, Tânia Carvalho, Victor Hugo Pontes, João Fiadeiro, Mala Voadora, João Botelho, Manuel Mozos, Sopa de Pedra, cujo resultado tem sido apresentado regularmente em Portugal e no estrangeiro.

Desde 2010 que se dedica a divulgar a obra do compositor francês Erik Satie: em 2016, com o apoio da Antena 2, assinalou o 150º aniversário do nascimento compositor com a digressão SATIE.150 e o lançamento do livro Embryons desséchés (Pianola). Nos últimos anos tem apresentado em recitais comentados para adultos e crianças à volta da música de Erik Satie e editou ainda os álbuns SATIE.150, HARMONIES e ARCUEIL. Tocou a peça Vexations de Erik Satie em três ocasiões: Festival Jardins Efémeros, 2016; Fundação Calouste Gulbenkian, 2018; Atelier Re.al com João Fiadeiro, 2019, em performances que duraram 15h, 14h e 7h respectivamente.

Em Outubro de 2020, num concerto na Culturgest, estreou, em Portugal, o ciclo para piano O Livro dos Sons de Hans Otte. Fruto de uma já longa colaboração com Ingo Ahmels, assistente do compositor, esta foi a primeira acção de divulgação da obra de Hans Otte no nosso país, parte integrante do Festival Hans Otte : Sound of Sounds que, com o apoio do Goethe Institut, passará por várias cidades portuguesas e contará com diferentes manifestações artísticas. Também em outubro de 2020 estreou, na Fundação Lapa do Lobo o espectáculo “As árvores não têm pernas para andar” destinado ao público infantil, que conta com a colaboração de João Godinho (música), Francisco Eduardo (ilustrações), Eles® (cenografia) e Frederico Rompante (design de luz).

A eclética discografia de Joana Gama está presente nas editoras portuguesas Shhpuma, mpmp, Pianola, Boca/Douda Correria e Holuzam, na australiana Room40 e na Grand Piano (grupo Naxos).
Talvez por se ter iniciado na música e no ballet em simultâneo, Joana Gama convoca para o acto de tocar piano uma particular expressividade, como se a postura e os graciosos movimentos que aprendeu na dança lhe tivessem ficado marcados no corpo.

A prática iconoclasta de Margaret Leng Tan deu origem a dois documentários de longa-metragem: Sorceress of the New Piano (2004) de Evans Chan e Twinkle Dammit! (2020) de Chuang Xu, premiado como Melhor Realizador no NÒTFilm Festival (Itália) e Melhor Documentário Estrangeiro no Kadoma International Film Festival (Japão).

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Sentir os Sons


Ingo Ahmels


Perscrutar a natureza dos sons diretamente ao piano tornou-se o caminho preferido de Otte para a composição, no final dos anos 70, o mais tardar. Ao mesmo tempo consciente e intuitivamente, ele ouve, toca, sente as suas séries de sons, modela-as e reformula-as, inspira-as e volta a expirá-las. Só quando parece ter sido encontrado um ponto de equilíbrio, é que as formas são notadas graficamente na partitura, e, se necessário, novamente questionadas e modificadas. O processo de revisão dialético de Otte ao serviço do desenvolvimento é, em suma, o do Ocidente. No entanto, o compositor reconhece, neste contexto: “Estou grato a John Cage pela chamada de atenção para os sons 'tal como são' [...]: a arte do deixar ir, do deixar ser, do deixar acontecer.”
Rescindindo cautelosamente da tradição do piano europeu, condensou (com vestígios de Schubert, Chopin, Debussy, Ravel, Satie e música americana minimal) uma síntese refinada e sempre fluida de antigos e novos mundos sonoros e formais. Das Buch der Klänge, uma composição francamente popular para uma obra de música erudita contemporânea, foi até agora difundida – na própria gravação de Otte, de 1983 – mais de 20.000 vezes em todo o mundo.

Hans Otte

por Ingo Ahmels

 

Nascido em 1926, em Plauen na Alemanha, aos cinco anos de idade, as artes já o fascinavam, concebia dramas e encenava-os em palcos-miniatura construídos por si.
Recebeu a sua formação básica de piano em Bronislaw von Pozniak, a partir de meados da década de 1930. Desde então, compôs peças para piano e outros instrumentos, um concerto para piano aos nove anos de idade e uma primeira sinfonia aos 14. [...] A partir de 1946, Otte pode estudar simultaneamente composição com Kurt Rasch na Academia de Música de Weimar e direção com Hermann Abendroth, na Bauhaus Fine Arts, e também estudou teatro na Stanislawski School of Acting. No mesmo ano, ganhou o Prémio Nacional de Weimar, na categoria de Improvisação. [...]
Depois de um período de estudo na Villa Massimo, em Roma (1959), a Rádio Bremen contratou Otte como o mais jovem diretor musical da ARD aos 32 anos de idade.
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Aí, paralelamente à sua própria carreira artística, desenvolveu uma atividade que marcou uma época, como mediador cosmopolita da música e da arte sonora, especialmente no âmbito das bienais "pro musica antiqua" e "pro musica nova", que fundou, até 1984: com apresentações não dogmáticas de arte musical nova, antiga e culturalmente diferente baseada na mediação sensorial direta, Otte fez de Bremen uma referência de topo no mundo da música, durante muitos anos. Otte, que esteve sempre em intercâmbio internacional com os melhores compositores, intérpretes, pessoas do teatro, artistas visuais e filósofos de hoje, naquela altura pouco conhecidos, atribuiu-lhes uma série de importantes encomendas, muitas vezes contra a resistência maciça dos comités: aos novos intérpretes de música antiga, de Stefford Cape a Nikolaus Harnoncourt, promoveu a criação de mais de 100 novas obras, de Cage a Stockhausen, e a introdução na Europa de música jovem americana, de LaMonte Young a Terry Riley, organizou performances ao vivo e produções de música para piano, de David Tudor a Herbert Henck, palestras filosóficas, de Theodor W. Adorno a Ernst Bloch, e, por último, mas não menos importante, impulsionou uma série de obras multimédia de artistas visuais, de Wolf Vostell a Nam June Paik. [...]
Com o seu segundo grande ciclo de piano, Stundenbuch (1991-98), Otte continua no caminho da abertura integrativa, concentrando-se, desta vez, ainda mais fortemente no "essencial aparentemente simples": o diálogo vivo de Otte com a tradição Zen japonesa, que começou quase simultaneamente com a sua amizade de décadas com John Cage e continuou durante várias estadias no Japão, levou o compositor ao seu trabalho sonoro aberto "que liberta", ouvintes e intérpretes (no sentido de Cage), mas que não requer a técnica aleatória. [...] Partilhar a experiência auditiva diretamente com os pares, expondo a beleza do som que se refere a si próprio e abrindo assim horizontes para o pensamento filosófico e os sentimentos espirituais - estes são os anseios impulsionadores também associados às numerosas obras multimédia de Otte.
Desde o objeto sonoro Atem (1972), arquetipicamente direto, até à sofisticada obra Namenklang (1995), que transforma o som da fala em música espacial coral, Otte desenvolveu continuamente este conjunto de obras. As quase 50 instalações sonoras, esculturas, ambientes de luz e som, séries de imagens, vídeos e, por fim, mas igualmente importante, as 17 peças de teatro musical, utilizam, formalmente e com precisão, um espectro extremamente amplo de técnicas de criação artística para uma e a mesma pessoa.
- Resume

“É um antigo sonho meu, descobrir a natureza dos sons, e não usar os sons para dizer uma outra coisa.”

Hans Otte

FICHA TÉCNICA

PIANO
Joana Gama

EDIÇÃO E REVISÃO CONTEÚDOS
Inês Bernardo

 

Excertos retirados de Ahmels, Ingo. Hans Otte - Klang der Klänge / Sound of Sounds,Rolf W. Stoll (ed.) Mainz: Schott. 2006. ISBN 3–7957–0586

VÍDEO E SOM
Bruno Castro

DESIGN E WEBSITE
Macedo Cannatà & Queo

FOTOGRAFIA
Vera Marmelo

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