LISBOA QUE NÃO SE VÊ

“O mistério destas filmagens é essencial, assim como a possibilidade de olhar para a Europa de hoje e sentir que enfrentamos desafios semelhantes. (…) Não vale a pena comparar épocas, mas podemos aprender com esses mecanismos.”

Daniel Blaufuks, em entrevista ao Observador

Durante a II Guerra Mundial, Lisboa foi palco de histórias de fuga, como a do cineasta Eugen Schüfftan, que passou brevemente pela cidade a caminho dos EUA. Deixou-nos imagens que captaram o seu olhar sobre a capital. Em 2023, Daniel Blaufuks criou uma curta-metragens a partir dessas filmagens, expandida em 2025 num novo projeto que nos convida a vivenciar aquele dia de 1940. A obra também inspirou Matthew Herbert a compor uma banda sonora original que ouvimos em cine-concerto.

Naquele Dia
em Lisboa

Trailer

"De um arquivo esquecido, Daniel Blaufuks e Matthew Herbert fizeram um filme-concerto sobre Lisboa na Segunda Guerra Mundial" 

Ricardo Ramos Gonçalves in Observador

 
A partir de imagens recolhidas por Eugen Schüfftan, Daniel Blaufuks e Matthew Herbert recuperaram um dia incógnito de 1940. Para ver no Theatro Circo, em Braga, e na Culturgest, em Lisboa.

“Ao longo dos anos pesquisei muito sobre a história da cidade neste período e fui reunindo alguns destes excertos. Há bastante informação sobre o papel de Lisboa como refúgio de espiões, mas também textos de autores que escreveram sobre a sua passagem por Lisboa, alguns hoje bastante esquecidos”.

"A verdade é que, ainda hoje, continuamos sem saber por que motivo as filmou, em que circunstâncias esteve em Lisboa com material para registo e, sobretudo, porque não as levou consigo."

Daniel Blaufuks

 

"A primeira vez que vi estas imagens tive a sensação de estar perante um filme de ficção científica.”(...) É uma versão alien de Lisboa, da qual pouco sabemos. Nada sabemos sobre as pessoas que vemos nem sobre o que faziam ali. Mas é precisamente por isso que podemos criar um objeto poético, onde o contexto da guerra está presente, sem estar diretamente inscrito naquelas imagens”

A desaceleração imposta pela montagem de Blaufuks permitiu a Herbert explorar contrastes entre silêncio e dramatização, criando um espaço para imaginar vozes e sons a partir dos gestos, do andar ou do vestuário das pessoas. “Podemos projetar neles a nossa imaginação e entrar nesse espectro mais humano”(...)
Na criação sonora, procura-se a humanidade nestes rostos anónimos. Ao Observador, Herbert explica a importância dos sons recolhidos pela diretora de som Armanda Carvalho: “Ela esteve nos mesmos locais e gravou os elétricos a passar, os passos das pessoas, a água das fontes. Foi a partir dessa junção de sons que compus a banda sonora, mantendo essa ligação humana que me fascinou desde o início”.

Matthew Herbert

Lisboa que não se vê

O concerto de Matthew Herbert e Daniel Blaufuks, Naquele Dia em Lisboa – Versão Longa revisita imagens inéditas de Lisboa em 1940, projetadas em grande ecrã, enquanto a música de Herbert se desenrola ao vivo, expandindo o tempo e transformando cada frame em experiência sonora. Deste diálogo entre som e imagem, fomos à procura de quem viveu essa Lisboa e encontrámos o projeto ILHAS, do Arquivo dos Diários de Lisboa, que transforma depoimentos íntimos em instalação sonora e visual. Vamos ouvir alguns fragmentos de vida de quem habitou e habita Lisboa. Diários, que nos aproximam dessa Lisboa dos anos 40 do século XX.

 

FICHA TÉCNICA

ARTIGO OBSERVADOR
Ricardo Ramos Gonçalves

EDIÇÃO
Carolina Luz

REVISÃO DE CONTEÚDOS
Catarina Medina

DESIGN E WEBSITE
Studio Macedo Cannatà & Queo