A MELANCOLIA LUMINOSA
de Glockenwise

"Este é o disco possível de escrever quando só te apetece chorar."

Glockenwise

 

Encontramos Gótico Português a meia-distância. Nem no centro, nem na margem.
É a partir desse terreno, que mais não é do que um conflito identitário de quem cresceu longe dos grandes centros - mas que neles precisa de se deslocar para trabalhar ou estudar -, que nos chega um conjunto de canções de Glockenwise.
A estética do disco segue o próprio título que remete para o american gothic "em que há sempre esta ideia do bizarro, do desconcertante, do alinhamento entre as estruturas metafísicas convencionais com as populares". Desse ponto de partida, a banda de Barcelos chegou à paisagem que dá capa ao álbum, de umas esculturas também elas com o seu quê de bizarro, que ocupam o Museu de Santa Maria de Lamas, cujas fotos são da autoria de Renato Cruz Santos, e excertos de entrevista de Rosa Ramalho - ceramista de Barcelos - que pontuam as faixas do disco. Neste microsite, entramos por este imaginário adentro e mostramos mais das origens e do pano de fundo que marca o quinto trabalho dos Glockenwise.
“Ela [Rosa Ramalho] descreve, com aquele jeito cândido e direto dela, muitas das coisas que sentíamos. E se já estávamos a colocar esta estética visual no disco e sentíamos que havia ali um espaço emocional comum, porque não introduzir também a Rosa na narrativa auditiva?”
"Temos ideia da terrinha e das pessoas que adoram a terrinha, e temos a Rosa Ramalho a dizer que adora Lisboa e que se pudesse morava em Lisboa, mas em Lisboa não dá para fazer barro."
Nuno Rodrigues (vocalista)
© DR.© DR.
© DR.

ROSA RAMALHO

Rosa Barbosa Lopes, 1888 – 1977 Galegos, Concelho de Barcelos. Filha de Luís Lopes, sapateiro, e de Emília Barbosa, tecedeira.

Aos 18 anos, casou com António Mota, moleiro de profissão, e teve oito filhos (três morreram à nascença). Durante os anos que esteve casada, Rosa passou a dedicar-se ao mesmo ofício do marido. Com a morte do seu marido, em 1956, tinha 68 anos, abandonou a profissão de moleira. Volta a trabalhar no barro, material que a acompanhou até ao final da sua vida.

Começou a frequentar feiras e romarias, onde escoava facilmente os seus trabalhos, espalhadas por todo o país mas, principalmente, pela zona do Porto. A sua presença nas feiras conduziu ao reconhecimento público do seu trabalho, que rapidamente passou a ser divulgado na imprensa. As peças modeladas retratavam cenas do quotidiano popular como: a matança do porco, mulheres em carros de bois, pombas e músicos, assim como, peças inspiradas no mundo místico das procissões, santos e anjos. Para além destas, produziu uma vasta obra imbuída de um universo que, enquanto criança, a perturbava – “o mundo dos monstros”. Lobisomens, feiticeiras, diabos, bichos informes, entre outras figuras, marcaram um imaginário enigmático e original. Esta vertente da sua obra, fantasmagórica e inimaginável, distinguiu-a de tantos outros barristas desta região, dando-lhe reconhecimento público.

Fez inúmeras exposições em Portugal e no estrangeiro. É possível destacar duas distinções que recebeu enquanto artesã: Medalha “As Artes ao Serviço da Nação”, na Feira de Artesanato de Cascais (1964);  Prémio do melhor conjunto de Figurado, no Concurso de Artesanato realizado em Barcelos (1964).

Museu Santa Maria de Lamas

"Um “sítio tão bizarro” quanto cativante, inventado por um “senhor com dinheiro, um empreendedor naïf, que construiu um museu ad-hoc em que cada sala é uma coisa absolutamente surreal, super barroca no sentido de ser carregada de impulsos de todos os lados.”
© Renato Cruz Santos - Culturgest.
© Renato Cruz Santos - Culturgest.
© Renato Cruz Santos - Culturgest.
© Renato Cruz Santos - Culturgest.
© Renato Cruz Santos - Culturgest.
© Renato Cruz Santos - Culturgest.
© Renato Cruz Santos - Culturgest.
© Renato Cruz Santos - Culturgest.
© Renato Cruz Santos - Culturgest.
© Renato Cruz Santos - Culturgest.
© Renato Cruz Santos - Culturgest.
© Renato Cruz Santos - Culturgest.

Nunca me chega a loiça para domingo

Se este fica mal feito o outro fica melhor

O Projeto Invisível #4 / 5. SONS DA ARTE

Ao quinto álbum, os Glockenwise voltam a olhar para o lugar de onde vieram: as margens. Aqui, partilham o registo inédito de três demos de diferentes fases da produção de Gótico Português, que apresentam em concerto na Culturgest.

FICHA TÉCNICA

FOTOGRAFIA
Renato Cruz Santos

SOM
Excertos sonoros Documentário sobre Rosa Ramalho

EDIÇÃO
Carolina Luz

REVISÃO DE CONTEÚDOS
Helena César

DESIGN E WEBSITE
Studio Macedo Cannatà & Queo