VÓRTICE DA PALAVRA

Artista de todas as artes e protagonista da cultura italiana, Pier Paolo Pasolini conseguiu ser muito e tudo ao mesmo tempo.

 

Dedicamos uma programação de teatro, debate e cinema à obra do intelectual, cineasta, crítico literário, poeta, romancista, dramaturgo, no ano em que celebra o centenário do seu nascimento.

"A personagem tem de fazer um percurso de sofrimento, para fazer uma aprendizagem. Essa aprendizagem do que é a felicidade tem de passar por aqueles corpos e por aquelas existências."

Nuno M Cardoso, encenador

Prólogo de Orgia, de Pier Paolo Pasolini
 

interpretação: Albano Jerónimo | som: Óscar Benito
© Raquel Balsa.
© Raquel Balsa.
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© Raquel Balsa.
© Raquel Balsa.
© Raquel Balsa.

MANIFESTO POR UM NOVO TEATRO
de Pier Paolo Pasolini, 1968

 

"O teatro que esperamos, mesmo o mais absolutamente novo, não poderá ser o teatro que esperamos. De facto se esperamos um novo teatro, esperamos necessariamente dentro das ideias que já temos, além disso, aquilo que esperamos, de alguma forma já existe."
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A quem se destina


Os destinatários desse novo teatro não serão os burgueses (que vão ao teatro para divertir-se e que, às vezes, se escandalizam) mas sim, os grupos avançados da burguesia constituídos pelos poucos intelectuais realmente interessados em cultura: progressistas de esquerda, sobreviventes do laicismo liberal e radicais. Esses grupos avançados não se divertirão nem se escandalizarão já que são semelhantes em tudo ao seu autor. Esta classificação é e pretende ser esquemática. Aconselha-se calorosamente a uma senhora que frequente os teatros da cidade que não assista às representações do novo teatro. Ou, caso se apresente com o seu simbólico, patético, casaco de vison encontrará na entrada um cartaz a explicar que as senhoras com casacos de vison deverão pagar um preço trinta vezes mais alto que o preço normal. Nesse mesmo cartaz, pelo contrário, estará escrito que os jovens fascistas de vinte e cinco anos poderão entrar de graça. Além disso, pediremos também que não aplaudam. Vaias e outras formas de desaprovação serão admitidas.

 

O teatro da palavra


O novo teatro quer definir-se como Teatro da Palavra. Incompatibiliza-se tanto com o teatro tradicional como com todo o tipo de contestação ao teatro tradicional. Remete explicitamente para o teatro da democracia ateniense, saltando completamente toda a tradição do teatro burguês, e porque não dizer a inteira tradição moderna do teatro renascentista e de Shakespeare. Espera se que o espectador oiça mais do que veja. As personagens são ideias a serem ouvidas.

 

Destinatários e espectadores

É um teatro possibilitado, solicitado e desfrutado no círculo cultural dos grupos avançados de cultura. É o único que pode chegar, não por determinação ou retórica, à classe operária. Já que esta se encontra unida por uma relação directa aos intelectuais. O Teatro da Palavra opõe-se ao teatro da conversa (tradicional) e ao teatro do gesto e do grito (não tradicional). Desta dupla posição nasce uma das principais características do Teatro da Palavra: a ausência quase total de acção cénica, desaparecendo quase totalmente a encenação. Reduzindo todos os seus elementos (luz, cenário, figurinos, etc…) ao indispensável. Não deixará de ser uma forma de rito (ainda que jamais experimentada). O seu rito não pode ser definido de outro modo que não seja um Rito Cultural.

 

O ator do teatro da palavra

O ator do Teatro da Palavra não terá que apoiar as suas faculdades com uma especial atração pessoal (teatro tradicional), ou numa espécie de força histérica messiânica (teatro não tradicional), explorando demagogicamente o desejo de espectáculo do espetador (teatro tradicional), ou enganando o espetador através da implícita imposição de fazê-lo participar num rito sagrado (teatro não tradicional). Terá que sustentar as suas faculdades na sua capacidade para compreender realmente o texto e ser assim, veículo vivo do próprio texto. Será melhor actor quanto mais o espectador, ao ouvi-lo dizer o texto, compreenda que o ator compreendeu. O ator do Teatro da Palavra terá de ser simplesmente um homem de cultura.

 

Epílogo


O Teatro da Palavra é um teatro completamente novo porque se dirige a um novo tipo de público. O teatro da Palavra não tem nenhum interesse espectacular, mundano, etc… o seu único interesse é cultural, comum ao autor, aos atores e aos espetadores, que portanto, quando se reúnem, cumprem um Rito Cultural.

 

- Resume

Excertos do Manifesto

Pier Paolo Pasolini

Excertos de tragédia de um homem ridículo

 

I - Realidade como representação

II - Poesia oral

III - Semiologia do teatro

IV - Teatro da realidade

15ª Festa do Cinema Italiano

Descubram o programa completo
 
"[Pasolini] Grande protagonista deste ano, 100 anos do seu nascimento. Uma data imperdível para voltar a lembrar um dos grandes intelectuais. Com uma grande retrospetiva em Pasolini Revisitado, em que mostramos os filmes de Pasolini como realizador, mas também filmes em que colaborou e filmes inspirados em si. (...) também temos um segundo projeto, Cinema segundo Pasolini, seis cópias restauradas, que estreamos em sala."

Stefano Savio, diretor artístico Festa do Cinema Italiano
FICHA TÉCNICA
ORGIA, DE PIER PAOLO PASOLINI

TEXTO 
Pier Paolo Pasolini

TRADUÇÃO
Pedro Marques

DIREÇÃO
Nuno M Cardoso

INTERPRETAÇÃO
Albano Jerónimo, Beatriz Batarda, Marina Leonardo

INSTALAÇÃO
Ivana Sehic

DESENHO DE LUZ
Rui Monteiro

ASSISTÊNCIA DESENHO DE LUZ
Teresa Antunes

FIGURINOS
Sara Miro

SOM
Óscar Correia

FOTOGRAFIA
Susana Chicó

DIREÇÃO DE PRODUÇÃO
Francisco Leone

PRODUÇÃO EXECUTIVA
Luís Puto

PRODUÇÃO
Teatro Nacional 21

DIREÇÃO TEATRO NACIONAL 21
Albano Jerónimo, Cláudia Lucas Chéu e Frascisco Leone

COPRODUÇÃO
Teatro Viriato – Viseu, Centro Cultural Vila Flor – Guimarães | Oficina

APOIOS
Adelaide Castro, AMANDA, Circolando, Emanuel Abrantes, Ira de Jesus, João Rento Baptista, Lola Sousa, Mala Voadora, Polo Cultural das Gaivotas, Rodrigo Queirós

AGRADECIMENTOS
Pro Dança, Paulo Capelo Cardoso 

APOIO MEDIA
Antena 3 e Rádio Futura

MICROSITE

EXCERTOS ÁUDIO
Nuno M Cardoso

FOTOGRAFIA
Bruno Simão e Raquel Balsa

EDIÇÃO
Carolina Luz

REVISÃO DE CONTEÚDOS
Catarina Medina

DESIGN E WEBSITE
Studio Macedo Cannatà & Queo