PROFANAÇÕES:
"Elogio da profanação"

Profanar os Corpos, profanar o Tempo, profanar a História.

A exposição comissariada por David Revés é um elogio à profanação. Na Fidelidade Arte, em Lisboa, e na Culturgest Porto, recebemos um território que se situa entre o transcendente e o telúrico e que nos traz obras vindas da religião, bruxaria, sexualidade e adivinhação.
Profanações conta com obras de: Albrecht Dürer, Annie Sprinkle & Beth Stephens, António da Silva, Christine Henry, Francisca Sousa, Igor Jesus, Isabel Cordovil, Jol Thoms, Mariana Gomes, Odete, Paulo Serra, Pedreira, Pedro Moreira, Plastique FantastiqueRasmus Myrup, Sonja Alhäuser.

"David Revés traz para a arte contemporânea não apenas obras que pertencem a outros domínios, mas obras de artistas que ainda não apareceram nos habituais espaços públicos de consagração".

José Marmeleira (Contemporânea)

O Projeto Invisível #4 / 6. Profanações

Como nasce uma exposição? Através de que processos? A Culturgest inicia Território, um novo ciclo de programação de artes visuais da Culturgest, em parceria com a Fidelidade Arte. A cada nova exposição é dada carta branca a um curador para explorar o seu território. O terceiro é Profanações, de David Revés. Perguntámos-lhe sobre o que lhe tem ocupado a mente, enviou-nos Elogio da Profanação, um ensaio do filósofo Georgio Agamben, do livro Profanações. A partir daí sentamo-nos para uma conversa sobre apropriações, profanações e como David Revés tenciona profanar também este ponto de partida para o seu Território.

 

Território #3 | Profanações | David Revés
Profanar os corpos e os objectos, profanar o Tempo, profanar a História. Numa apropriação do título do livro homónimo do filósofo italiano Giorgio Agamben, Profanações desdobra-se num território de constelações que pretende avaliar artística e criticamente os ideais racionalistas de Progresso e sua maquinaria de mobilização cinética sob os quais as sociedades ocidentais se têm orientado. Afirmando a profanação enquanto gesto especulativo que possibilite a criação de novos horizontes para pensar e reinventar o mundo, esta exposição reúne obras e documentos de diferentes naturezas e origens, propondo distintas modalidades de pressionar a História e suas expectativas normalizadoras, assim como procurando exaltar muitas das materialidades — esquecidas, lateralizadas, presentes e futuras — que existem, potentes, no seu interior. 
Ao contrário do sentido que comummente atribuímos a esta palavra, Profanações não se apresenta, aqui, como reunião irreflectida de acções sacrílegas, desrespeitadoras, ofensivas ou mesmo criminosas em relação a qualquer sistema instituído ou esfera do sagrado. Como o próprio Agamben indica, a profanação não deverá ser confundida com a simples negação do sagrado, mas sim entendida como a apropriação, rearticulação e reutilização do seu valor para fins profanos, transformando-o em novas alteridades: mais próximas do chão, da vida livre, da partilha comum e indistinta.
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Conservando, ainda assim, uma certa atitude transgressora, subversiva ou dissidente, que perpassa pela grande maioria das obras aqui apresentadas, esta exposição existe, sim, como cenário aberto onde dispositivos que sempre fizeram impor mecanismos de limite, controlo, vigilância, moralidade, convencionalismos, ou ainda lógicas de dominação, desenho, rigidificação e previsão da experiência são contrariados, extravasando em formas libertas, fluxíveis e ambíguas. 
Caminhando pelas salas desta exposição — com ambientes marcadamente distintos, embora sincreticamente conectados —, deparamo-nos com produções e propostas oriundas da religião, bruxaria, alquimia, esoterismo, sexualidade, práticas ritualísticas, ficção científica, ecologia, entre outras, que agenciam imagens e movimentos capazes de questionar estruturas de poder, de dominação des corpes, tradições, hierarquias fixas, narrativas estratificadas, lugares e espaços delimitados onde a gestão das presenças e suas expectativas obedece a uma economia precisa. 
E se, novamente com Agamben, toda a profanação conserva, no seu movimento, uma réstia do plano sagrado ao qual se quis contrapor, a toda esta exposição subjaz, então, uma ideia latente: a que encara a Matéria e a Terra — e todos os seus ritmos, paixões, metamorfoses, tumultos, ciclos de vida e de morte — como forças agenciais, radicais e absolutas.
David Revés (Maio, 2023)

O autor escreve segundo o antigo acordo ortográfico

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© Vera Marmelo
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Sobre David Revés

David Revés [1992, PT] é curador independente, escritor e investigador. Vive e trabalha entre Portugal e a Suécia. Tem um mestrado em Estudos Artísticos (FBAUP) e uma pós-graduação em Ciências da Comunicação — Culturas Contemporâneas e Novas Tecnologias (FCSH — UNL). É fundador do Metanoia, um projeto nómada que organizará, a partir de 2024, um programa de exposições, seminários e publicações em torno de narrativas de extinção e linguagens especulativas. Enquanto curador, desenvolveu projetos expositivos para diversas instituições, tais como: Associação Alfaia, Loulé; Fundação DIDAC e Igrexa da Universidade, ambas em Santiago de Compostela; Casa da História Judaica, Elvas; Museu Municipal de Faro; e Galeria Uma Lulik__, Appleton, Fundação Leal Rios, Rua das Gaivotas 6, Fundação Arpad Szenes — Vieira da Silva, Galeria Liminare, Carpintarias de São Lázaro, Casa do Capitão, todas em Lisboa; entre outras. Foi programador e curador da Galeria Painel, Porto, curador residente na Fundação DIDAC, Santiago de Compostela, Espanha, e integrou a equipa curatorial do CINENOVA — Interuniversity Film Festival. Como crítico e investigador colaborou com instituições portuguesas de referência, tais como o Museu Nacional Soares dos Reis, o Museu de Arte Contemporânea de Serralves, BoCA: Biennial of Contemporary Arts, Centro de Arte Oliva, ou ainda o Centre d'art contemporain (CAC) - Meymac, França. Em 2022 organizou a residência “Towards the Planetary” na Associação Alfaia, Loulé, convocando artistas, artesãos, autores e outros curadores em torno do pensamento da natureza, cultura, tecnologia e do Planetário. Desenvolve regularmente uma atividade crítica e ensaística para revistas especializadas, livros de artista, edições académicas, palestras e seminários. Os seus textos foram já publicados na DARDOmagazine [Espanha], Floating Projects [China], ExibartMagazine [Italia], SUMAC Space [Médio Oriente] e BoCA blog [Portugal]. É colaborador regular da revista portuguesa Contemporânea.

FICHA TÉCNICA

FOTOGRAFIA
Vera Marmelo

TEXTO
David Revés

EDIÇÃO
Carolina Luz

REVISÃO DE CONTEÚDOS
Helena César

DESIGN E WEBSITE
Studio Macedo Cannatà & Queo