Em homenagem à vida e obra de Julião Sarmento (Lisboa, 1948 - 2021), a Coleção da Caixa Geral de Depósitos destaca a obra Moderato Cantabile, de 1985. Composta por quatro imagens, que oscilam entre a figuração e a abstração, aparentemente de diferentes origens, a pintura constrói-se através de uma montagem quase cinematográfica, que acompanha a investigação artística que o artista se dedicou nos anos 80. Ao contrapor estas cenas entre elas, uma certa narrativa formal parece emergir e iludir o espectador de uma possível história existente. Contudo, não será a compreensão textual que interessa ao artista, antes pelo contrário, a dúvida, a confusão, o tentar apreender as imagens torna-se uma busca incessante por fixar algo infixável ou por conter algo que extravasa. É nesta impossibilidade que as obras de Julião Sarmento se fizeram maiores num mundo contemporâneo voraz e inquietante.

A pintura Moderato Cantabile foi recentemente exposta na exposição O pequeno mundo, com curadoria de Sérgio Mah, no MACNA - Museu de Arte Contemporânea Nadir Afonso, em Chaves. No catálogo publicado na ocasião o curador escreveu: “Ao citar o título de um conhecido livro de Marguerite Duras, a pintura designa desde logo a ficcionalidade como uma condição relevante na experiência deste quadro, constituído por quatro composições. A obra veicula uma certa ideia de montagem, como possibilidade de configuração de um espaço-tempo peculiar entre os gestos e as (suas) imagens (mentais). Esta montagem refere-se à construção de uma sintaxe que estrutura um trabalho de espacialização das diferentes partes, também como modo de articular um sistema de conexões e de separações entre formas físicas, materiais e visuais. Podemos ter a tentação de estabelecer correspondências entre o que vemos nesta pintura e determinadas situações da obra de Duras. Porém, esse esforço será inglório, simplesmente porque não estamos no domínio da compreensibilidade. Estamos no espaço do potencial, no território das projeções imaginárias, onde o artista nos força a descobrir a natureza e o propósito do nosso próprio olhar.”

Entre 1968-74, o artista frequentou o curso de Arquitetura da Escola Superior de Belas Artes de Lisboa. Em 1976, expõe, pela primeira vez individualmente, na Galeria de Arte Moderna da Sociedade Nacional de Belas-Artes. Participa nas importantes exposições coletivas Alternativa Zero (1977) e Depois do Modernismo (1983), ambas em Lisboa. A sua carreira rapidamente se internacionaliza e atinge as mais relevantes mostras de arte contemporânea, das quais se destacam as participações na XI Bienal de Paris (1980), na Documenta 7 (1982) e 8 (1987), em Kassel, na 49.ª Bienal de Veneza (2001) e na 25.ª Bienal de São Paulo (2002). Em 1997, representa Portugal na 47.ª Bienal de Veneza.

Segundo um protocolo assinado a 29 de maio de 2017, entre a Câmara Municipal de Lisboa e o artista Julião Sarmento, estabeleceu-se uma parceria para o comodato da sua coleção de arte contemporânea (designada “Coleção SILD”) no Pavilhão Azul, em Belém. O projeto de arquitetura está a cargo do arquiteto Carrilho da Graça e o futuro museu será dirigido pelo curador Sérgio Mah.

 

Hugo Dinis

JULIÃO SARMENTO
Moderato Cantabile
1985
Tinta acrílica sobre papel
198,3 x 199 cm
Inv. 328882
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