No âmbito do empréstimo da escultura Ping-pong Piece (1999) para a exposição “Um Silabário por Reconstruir”, com curadoria de José Maçãs de Carvalho e Tiago Candeias, a realizar-se no MACE – Museu de Arte Contemporânea de Elvas, entre 19 de julho e 19 de outubro de 2025, destaca-se esta obra, integrada na Coleção da Caixa Geral de Depósitos em 2005.

O trabalho desenvolvido por Ricardo Jacinto desde a década de 1990 situa-se num território liminar entre a arquitetura, as artes visuais e a música — uma confluência que reflete a sua formação multidisciplinar. Licenciado em Arquitetura pela Faculdade de Arquitetura da Universidade Técnica de Lisboa, frequentou o curso de Escultura e Artes Visuais no Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual, em Lisboa, e aprofundou os seus estudos em Som, Música e Vídeo na School of Visual Arts, em Nova Iorque. Foi artista residente na Cité Internationale des Arts, em Paris. A sua formação musical iniciou-se na Academia de Amadores de Música, prosseguindo no Hot Clube de Portugal, em Lisboa, e culminando com um doutoramento em Música e Artes Sonoras pelo Sonic Arts Research Center, em Belfast. A sua prática artística caracteriza-se por uma investigação contínua sobre o espaço físico, a imagem e o som, explorando dimensões oníricas e poéticas através de instalações imersivas. Recorrendo frequentemente a objetos do quotidiano, o artista constrói dispositivos sensoriais que estabelecem relações envolventes e inesperadas com os espectadores, desafiando as fronteiras entre o visível e o audível, o real e o imaginado.

A obra Ping-pong Piece (1999) parte de um gesto de apropriação — um ready-made — que transforma uma mesa de pingue-pongue, disposta em posição semiaberta e, portanto, inutilizável para o jogo, numa escultura visual e sonora. No centro da mesa, uma bola de pingue-pongue suspensa por um fio oscila sobre a rede, impulsionada pela deslocação de ar provocada por uma ventoinha. Este movimento é acompanhado pelo som grave de um baixo elétrico e pela incidência de um projetor de luz teatral, compondo uma instalação que convoca simultaneamente o olhar, a escuta e a perceção espacial. Toda a encenação parece imbuída de uma narrativa latente, que interpela o espectador sobre o que vê, ouve e sente. Como refere Delfim Sardo, “a tarefa de interpretação que, por vezes, exageradamente, atribuímos à nossa relação com a arte contemporânea é colocada em suspenso, posta entre parêntesis, porque nos é solicitado, como espectadores, que exerçamos a nossa melhor capacidade de atenção e nos disponibilizemos para a perturbação dos sentidos que nos é proposta.” Tal como em outras obras de Ricardo Jacinto, Ping-pong Piece desafia as convenções da escultura e da instalação, desestabilizando a noção de obra de arte como objeto fixo e conclusivo. Nas palavras de Ricardo Nicolau, “Ricardo Jacinto desmente a ideia de que a obra de arte deva corresponder a um processo irreversível que culmina num estático objeto icónico.”

A prática de Ricardo Jacinto caracteriza-se também por uma forte dimensão colaborativa, envolvendo artistas, músicos, arquitetos e performers em projetos interdisciplinares que expandem os limites da criação contemporânea. É cofundador da OSSO – Associação Cultural, sediada nas Caldas da Rainha: uma plataforma dedicada à experimentação artística e à investigação transdisciplinar. Em 2006, representou Portugal na Bienal de Arquitetura de Veneza, em colaboração com Pancho Guedes, reforçando a sua presença no panorama internacional da arte e da arquitetura.

Hugo Dinis

RICARDO JACINTO
Ping-pong Piece
1999
Mesa e bola de pingue-pongue, ventoinha, cabo de aço, projetor de luz, leitor de CD, amplificador e colunas de som
137 x 218 x 248 cm
Inv. 595756
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