A obra Sombras Brancas (1987) de Lourdes Castro é o destaque presente no âmbito do seu empréstimo à exposição “Lourdes Castro: existe luz na sombra”. A mostra estará patente no Arquipélago – Centro de Artes Contemporâneas, Ilha de S. Miguel, Açores, entre 13 de setembro e 01 de fevereiro de 2026. Com curadoria de Márcia de Sousa, a exposição tinha sido apresentada no MUDAS – Museu de Arte Contemporânea da Madeira com uma abordagem curatorial diferente, sob o título “Como uma Ilha sobre o Mar”, entre dezembro de 2022 e outubro de 2023. Após a apresentação nos Açores, esta versão da exposição poderá ser vista na Sociedade Nacional de Belas-Artes em Lisboa, de 10 de março a 30 de abril de 2026.

Lourdes Castro estudou Pintura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa, curso do qual viria a ser afastada em 1956 por não se conformar com o academismo praticado. Em 1957 partiu para Munique com o artista e seu marido René Bertholo, fixando-se pouco depois em Paris durante mais de 25 anos. Em 1972 e 1979, passou duas temporadas em Berlim como artista residente na DAAD. Em 1958, fundou o grupo KWY com René Bertholo, Costa Pinheiro, João Vieira, José Escada, Gonçalo Duarte, Jan Voss e Christo. A originalidade do seu trabalho, profundamente enraizada na cena artística europeia, desenha uma aproximação à Pop Art pela utilização de materiais do quotidiano. O regresso ao Funchal, em 1983, marca o início de uma fase de intensa colaboração com Manuel Zimbro, com quem desenvolveu projetos interdisciplinares – performances, cenografias e encenações – que culminaram na criação do Teatro de Sombras, em 1985. A obra Sombras Brancas inscreve-se neste universo poético e sensorial, dando continuidade à investigação em torno da materialização da sombra projetada sobre o papel branco. Esta obra é também um excelente exemplo da série de notáveis pinturas e desenhos da artista que valorizam a exuberância da vegetação e das flores da ilha madeirense. A partir de uma composição desenhada para a Manufactura de Tapeçarias de Portalegre – um tríptico em cartão que também pertence à Coleção da Caixa Geral de Depósitos —, a artista articula uma estrutura visual complexa de linhas, espaços vazios e manchas cromáticas. O conjunto de cores diferenciadas revela um padrão orgânico e harmonioso que condensa uma espécie de herbário insular, simultaneamente orgânico e abstrato.

Figura incontornável no panorama artístico português, realizou importantes exposições individuais: “Sombras à volta de um Centro” (2003), Museu de Serralves, Porto; e “O Grande Herbário de Sombras” (2002), Museu Calouste Gulbenkian, Lisboa. Em 2000, juntamente com Francisco Tropa, representou Portugal na XVIII Bienal de São Paulo, Brasil. Ao longo da sua vida a artista foi agraciada com diversos prémios, que atestam o reconhecimento e a qualidade da sua obra, dos quais se destacam: EDP (2000); Celpa/Vieira da Silva (2004); AICA (2010); Medalha de Mérito Cultural (2020); e a Ordem Militar de Sant’Iago da Espada (2021).

Hugo Dinis

LOURDES CASTRO
Sombras brancas I, II e III
1987
Manufactura de Tapeçarias de Portalegre
3 x (200 x 124 cm)
Inv. 470093
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