Por onde quer que se sintonize 2024, encontramos ubiquamente Cara de Espelho nas listas de melhores discos do ano, recebendo nomeações, exaltações e galardões. De repente, uma nova voz, feita de muitas vozes conhecidas, abriu um espaço de revolta onde canções-lutadoras convocam-nos com palavras de ordem acutilantes, de extrema pontaria e lucidez, que nos trazem à memória o dispensário histórico das cantigas de intervenção. Os tempos talvez sejam outros, decerto melhores em alguns aspetos, mas muitos dos assuntos que nos rodeiam e oprimem são-nos familiares, como fantasmas sob roupa remendada.

Cara de Espelho é como um dedo que aponta para o que vai debaixo desses trajes, com humor e acidez em dose perfeita, e com música que, não por acaso, é feita para resistir a tudo. E porque ainda continuamos a precisar de um país e uma sociedade melhores, B é mais uma coleção de hábeis canções que nos sacodem e despertam a alma, dão-nos voz e deixam-nos preparados para o que aí vem.