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Arqueologias da Hospitalidade

Rachael Kiddey, Rui Gomes Coelho, Yannis Hamilakis

Arqueologias da Hospitalidade

Rachael Kiddey, Rui Gomes Coelho, Yannis Hamilakis

Por todo o mundo, o número de migrantes não para de aumentar. Pelas imagens que nos chegam de refugiados a caminhar ou em acampamentos lotados ao longo das fronteiras europeias ou americanas, podemos entender que estas movimentações não têm sido tão bem acolhidas como deviam. Mas muitos europeus, portugueses incluídos, viveram num passado recente circunstâncias idênticas de migração.

Nesta nova era “nómada”, queremos saber que registos existem dos gestos de hospitalidade de que ao longo da história já fomos capazes. Que objetos trazem consigo aqueles que são forçados a partir para conservar uma ligação mental e afetiva com a vida anterior e para estruturar o presente? O que nos dizem os restos de passagem de fronteira, os abrigos temporários, as expressões artísticas migratórias, os muros e outros aparatos de fronteira?

Neste encontro exploramos os traços materiais da migração através do trabalho dos arqueólogos Rachael Kiddey, da Universidade de Oxford, Rui Gomes Coelho, da Universidade de Durham e UNIARQ - Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa e Yannis Hamilakis, da Brown University.

Arqueologias da Hospitalidade - A história de Hassan
© Bruno Castro.

25 NOV 2020
QUA 16:00

Online
Live streaming das conferências no Facebook e Youtube da Culturgest.
Duração 2h

Por motivos de força maior, a conferência vai ser realizada apenas online.

Em inglês sem tradução simultânea

Yannis Hamilakis sinopse e biografia

O retorno dos colonizados: uma arqueologia ativista para a nova era nómada

 

A migração em massa contemporânea, indocumentada, é um dos fenómenos que definem nossa era. De fato, pode-se dizer que entramos em uma nova era nómada, mas que está inscrita nas histórias inacabadas de colonização do sul global pelo norte global, principalmente pelas principais potências colonizadoras e imperiais. As pessoas colonizadas que sofreram os efeitos a longo prazo da expropriação, expansão imperial e guerra, agora reivindicam o seu direito de entrar no norte global e aproveitar as oportunidades que há muito lhes são negadas. As vidas são cada vez mais inviáveis para a maioria dos trabalhadores no sul global, e as mudanças climáticas devem exacerbar esse processo. Esse fenómeno social também é definido por novas condições materiais, sensoriais e afetivas que frequentemente escapam às análises convencionais nos estudos de migração. Essas novas realidades materiais incluem restos de passagem de fronteira, abrigos temporários produzidos por pessoas migrantes, campos de solidariedade e arte migratória, além de muros, cercas, centros de detenção e o aparato material militarizado do regime de fronteira e deportação. Arqueólogos e especialistas em cultura material, portanto, sintonizados com as propriedades sensoriais e afetivas das coisas, objetos, edifícios e artefactos, têm o potencial de fornecer uma compreensão profunda desse fenómeno, ativando o poder emotivo e afetivo da materialidade, gerando novos espaços de coexistência e convivência.

 

Yannis Hamilakis é professor Joukowsky Family de Arqueologia e professor de Estudos Gregos Modernos na Brown University. Seus principais interesses de inverstigação são as políticas de arqueologia e património, etnografia arqueológica, experiência e sensorialidade, a arqueologia da Grécia e a arqueologia da migração contemporânea. Entre seus livros estão:The Nation and its Ruins: Antiquity, Archaeology, and National Imagination in Greece [A nação e suas ruínas: antiguidade, arqueologia e imaginação nacional na Grécia] (Oxford University Press, 2007),  Archaeology and the Senses: Human Experience, Memory, and Affect[Arqueologia e os sentidos: experiência humana, memória e afeto] (Cambridge University Press, 2013), tendo editado The New Nomadic Age: Archeologies of Forced and Undocuented Migration [A Nova Era Nómada: Arqueologias da Migração Forçada e Indocumentada] (Equinox, 2018). Desde 2016, trabalha na ilha fronteiriça de Lesbos, na Grécia, explorando e registrando os traços materiais da passagem de fronteira e as realidades materiais produzidas pela migração indocumentada contemporânea e pelo regime de securitização que tenta regulá-la e reduzi-la.

Rachael Kiddey sinopse e biografia

O que as pessoas levam com elas e por quê: uma abordagem arqueológica ativista da cultura material do deslocamento forçado na Europa

 

Se fosse forçado a deixar sua casa repentinamente, o que levaria? Esta questão será o foco de apresentação de uma investigação no âmbito da 'Arqueologia Ativista', ou seja, o uso da arqueologia para esclarecer questões sociais contemporâneas específicas, neste caso, o deslocamento forçado na Europa. Juntamente com migrantes e refugiados, o projeto de investigação Migrant Materialities (2018-2021) procura registrar e documentar a cultura visual e material - isto é, os objetos, edifícios, paisagens – que envolvem a experiência da migração moderna. Quando entendemos o que existe - e que recursos estão faltando -, estamos melhor posicionados para melhorar as condições daqueles que vivem em situações de deslocamento – entre elas, as vivências em acampamentos e outras formas de acomodação temporária.
Os dados que serão apresentados foram reunidos usando métodos de pesquisa participativos - isto é, migrantes e refugiados foram ativamente envolvidos no desenho da pesquisa e na coleta de dados - na Suécia, no Reino Unido e na Grécia. Esta comunicação explora os tipos de objetos que os migrantes trazem com eles e como até mesmo pequenas coisas utilitárias conectam pessoas e lugares, ao longo do tempo, de várias maneiras significativas. Estas narrativas podem ajudar a iluminar as maneiras transformadoras pelas quais a cultura material pode "criar ou quebrar" o bem-estar mental de uma pessoa deslocada do seu lugar de origem, e contribuir de maneira útil para uma política humanitária e social.

 

Rachael Kiddey é investigadora de pós-doutoramento da British Academy na School of Archaeology, Oxford University. Seu projecto, Materialidades Migrantes, analisa o papel da cultura material em situações de deslocamento forçado contemporâneo na Europa (2018-2021). Rachael recebeu seu doutoramento no Departamento de Arqueologia da Universidade de York em 2014. Este envolveu o desenvolvimento de metodologias para trabalhar arqueologicamente com pessoas sem-abrigo, documentando como a tradição pode funcionar de maneiras socialmente úteis e transformadoras. Sua monografia Homeless Heritage foi publicada pela Oxford University Press em 2017 e ganhou o James Deetz Book Award 2019 da Society of Historical Archaeology. Rachael Kiddey é Senior Common Room Member e College Advisor no St Antony's College, Oxford e membro da Sociedade de Antiquários de Londres.

Rui Gomes Coelho sinopse e biografia

Arqueologias da hospitalidade

 

Nos últimos anos, a Europa foi confrontada com sua incapacidade de oferecer abrigo a milhões de pessoas que escapam da guerra e da pobreza ou simplesmente à procura de melhores oportunidades para si e suas famílias. Os europeus acostumaram-se a imagens de migrantes e refugiados em acampamentos lotados ao longo das fronteiras do continente, caminhando por trilhas na floresta ou presos em centros de detenção urbanos. Aqueles que procuram abrigo são frequentemente retratados e percebidos como outros radicais, vindos de outro tempo. No entanto, muitos na Europa viviam circunstâncias semelhantes não faz muito tempo. Quando foi que esquecemos os nossos próprios refugiados de guerra e migrantes clandestinos? Nos últimos anos, os meus colegas e eu descobrimos os traços materiais dos movimentos de resistência antifascistas no noroeste da Península Ibérica e na Croácia em meados do século XX. As comunidades locais abrigaram guerrilheiros e refugiados de guerra, sacrificando seus meios de subsistência por causas cujo resultado estava longe de ser certo. Os objetos e edifícios que incorporaram essas experiências permitem-nos questionar noções contemporâneas de hospitalidade e fronteira no contexto da atual crise europeia de hospitalidade, convidando-nos a imaginar futuros diferentes.

 

Rui Gomes Coelho trabalha sobre arqueologia do passado recente. Os seus interesses focam-se na constituição sensorial de modernidades alternativas, e em comunidades que mobilizam a cultura material contra abordagens nacionalistas do património cultural. Tem colaborado em projetos arqueológicos nos EUA, Portugal, Brasil, Alemanha, Espanha, Croácia e Guiné-Bissau. As suas publicações mais recentes incluem o ensaio “The Garden of Refugees” [O Jardim dos Refugiados] no volume The New Nomadic Age: Archeologies of Forced and Undocumented Migration [A Nova Era Nómada: Arqueologias da Migração Forçada e Indocumentada], editado por Yannis Hamilakis, 2018 e o artigo “An Archaeology of Decolonization: Imperial Intimacies in Contemporary Lisbon" [Uma Arqueologia da Descolonização: Intimidades Imperiais na Lisboa Contemporânea], publicado no Journal of Social Archaeology, 2019. É professor no Departamento de Arqueologia de Durham University. Trabalhou no Joukowsky Institute for Archaeology and the Ancient World, na Brown University, e no programa de Cultural Heritage and Preservation Studies no Departamento de História da Arte da Rutgers University. É também investigador da UNIARQ—Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa.

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