Destaca-se a obra Sem título (1997), de Jimmie Durham, integrada na exposição Casa das Novidades: a partir da Coleção da CGD, patente no Centro Cultural Raiano, em Idanha-a-Nova, entre 4 de outubro e 6 de dezembro. Esta mostra insere-se no ciclo Desconcentrar, uma iniciativa que promove a criação e produção artística em territórios de baixa densidade populacional, tais como Caramulo, Abrantes e Guarda. Nesta segunda etapa do ciclo, o curador João Francisco Reis selecionou as artistas Adriana João, Adufeiras do Rancho Folclórico de Idanha-a-Nova e Inês Mendes Leal para desenvolverem obras inéditas em residência artística, concebidas especialmente para esta ocasião.

Jimmie Durham foi um artista, poeta e ensaísta norte-americano que reivindicava ascendência Cherokee, embora nunca tenha sido oficialmente reconhecido por nenhuma comunidade dessa nação nativa. Apesar dessa controvérsia, Durham teve um papel ativo nos movimentos pelos direitos civis, especialmente a partir dos anos 1980, quando a sua prática artística ganhou destaque. Os objetos e textos que produziu exploram a desconstrução da visão dominante sobre a sociedade ocidental, recorrendo a elementos místicos e referências à identidade nativa como filtros críticos e simbólicos.

 

A obra Sem título (1997), de Jimmie Durham, integra a Coleção da Caixa Geral de Depósitos, tendo sido doada pelo artista aquando da sua participação na exposição “Pode a arte ser afirmativa?”, com curadoria de António Pinto Ribeiro (então, diretor artístico da Culturgest-Fundação da CGD). A mostra foi apresentada nos mastros de bandeiras situados no passeio da fachada poente do edifício-sede da CGD. A bandeira criada por Durham exibe o retrato de um homem de meia-idade, que encara diretamente o espetador. A pose hipnótica, a frontalidade desprovida de emoção e a formalidade do chapéu e das roupas sugerem a imagem de um homem comum, trabalhador. Ao escolher representar esta figura numa bandeira, Durham subverte o seu significado simbólico tradicional, revelando uma crítica às convenções da comunicação visual e propondo uma desconstrução dos códigos que regem a representação institucional.

A qualidade da obra de Jimmie Durham foi amplamente reconhecida, tendo-lhe sido atribuído o Leão de Ouro na 58.ª Bienal de Veneza, em 2019. Em 1992, participou na prestigiada Documenta IX, em Kassel, Alemanha, consolidando a sua presença no panorama internacional da arte contemporânea. Em 2017, foi inaugurada a exposição retrospetiva Jimmie Durham: At the Center of the World, no Hammer Museum, em Los Angeles, que percorreu posteriormente o Walker Art Center (Minneapolis), o Whitney Museum of American Art (Nova Iorque) e o Remai Modern (Saskatoon, Canadá). Esta retrospetiva reacendeu o debate em torno das alegações de Durham sobre a sua ascendência Cherokee, tema que acompanhou a sua trajetória artística e pública ao longo dos anos.

Hugo Dinis

JIMMIE DURHAM
Sem título
1997
Serigrafia sobre tecido
99,5 x 152 cm
Inv. 563811
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