No âmbito da exposição Joga o Jogo: Largada… Em torno da Coleção da Caixa Geral de Depósitos, com curadoria de Hugo Dinis, patente no Forum Arte Braga de 18 de setembro de 2025 a 4 de janeiro de 2026, destaca-se o vídeo Space Junk Beta 1.0 (2001), do artista Miguel Soares.

Pioneiro nos novos media de fotografia e vídeo, o artista tem vindo a desenvolver, desde o início da década de 1990, um corpo de trabalho que abrange animação 3D, jogos de computador e instalação sonora, explorando a perceção das imagens e os seus processos de criação. Por um lado, o espectador é confrontado com a origem virtual das imagens; por outro, com o recurso a programas informáticos e, mais recentemente, a ferramentas de inteligência artificial, a construção das imagens envolve cada vez menos intervenção manual. “Neste sentido, as suas obras sugerem um novo modo de pensar e de ver o mundo.” (Albano Silva Pereira). “A obsessão do artista prende-se com a possibilidade de construir um universo baseado unicamente na possibilidade ficcional e artística dos dispositivos electrónicos e virtuais.” (Nuno Crespo) As suas obras refletem a tensão entre um futurismo utópico e uma tecnologia nociva, de que Space Junk Beta 1.0 é um exemplo paradigmático. Através de uma representação visual imaginativa do lixo que orbita o planeta Terra, o vídeo revela uma parafernália de objetos 3D — modelos retirados da internet — tais como satélites, telemóveis, latas de Coca-Cola, máquinas fotográficas, ursos de peluche, árvores ou aviões, entre outros. Citando planos do exterior da nave espacial no filme 2001: Uma Odisseia no Espaço (1968), de Stanley Kubrick, combina movimentos lentos e objetos acelerados, numa cena coreografada que simula uma narrativa sobre “a metáfora do fluxo de informação através da rede global” (Miguel Wandschneider). A importância do som nas suas obras afirma-se “como uma espécie de demiurgo pluridisciplinar interessado em pensar a ilusão das imagens.” (José Marmeleira). Segundo o próprio artista, o som pode surgir “de diversas formas e com diversas funções”: “aumentar a imersão” ou “o realismo”; “conter uma mensagem mais importante do que a imagem”; ou “servir para criar um ambiente” (Miguel Soares). Em Space Junk Beta 1.0, um breve excerto retirado do sítio da NASA — em que os argonautas da missão Apollo à Lua descrevem os objetos dentro da nave — acrescenta novas camadas e complexifica a narrativa visual.

Em 1995, concluiu o curso de Design de Equipamento na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa e, entre 1989 e 1990, estudou fotografia no Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual, em Lisboa. Foi bolseiro do Centro Nacional de Cultura em 1992-93. Em 2003-04, realizou uma residência no Location One, em Nova Iorque, através de um acordo tripartido entre o Ministério da Cultura, a Fundação Calouste Gulbenkian e a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento.  Em 2007, venceu o Prémio BES Photo. No ano seguinte, a Culturgest apresentou, em retrospetiva, Vídeos e Animações 3D (1999-2005), com curadoria de Miguel Wandschneider. Em 2018, o MNAC – Museu Nacional de Arte Contemporânea do Chiado apresentou a exposição Luzazul, com curadoria de Adelaide Ginga. Miguel Soares é doutorado pelo Colégio das Artes da Universidade de Coimbra. Tendo sido professor convidado nas Universidades do Algarve, Coimbra e Évora, é atualmente docente na Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa.

Hugo Dinis

MIGUEL SOARES
Space Junk Beta 1.0
2001
Vídeo mono-canal, PAL (animação 3D), cor, som mono
4’42’’
Ed.3/5 + 2PA
Inv. 593438
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