A obra intitulada Estante e Colecção de livros de autores que se suicidaram (2000), de Fernanda Fragateiro, destaca-se âmbito da exposição Joga o Jogo: Partida… Em torno da Coleção da Caixa Geral de Depósitos, atualmente patente no MU.SA – Museu das Artes de Sintra. A exposição, que inaugurou no dia de 18 de maio, ficará aberta até 31 de agosto de 2025.
A obra foi apresentada pela primeira vez, noutro formato, na livraria Assírio & Alvim, em 1997, com o título Lugares Perfeitos 1. Nessa ocasião, o chão da sala foi ocupado com uma floresta artificial com modelos de árvores de madeira e nas estantes da livraria o espectador poderia consultar a coleção de livros de autores que se suicidaram. Em 2000, uma segunda versão da peça é apresentada na exposição Lugares Perfeitos 2 na Galeria Elba Benítez em Madrid. A obra integrava uma instalação em conjunto com Bancos (2000), também adquirida para a Coleção da CGD. Esta obra é composta por dois bancos dispostos de modo a formar um L, cobertos com almofadas que reproduzem as pinturas de Piet Mondrian, nos quais os visitantes podem sentar-se a ler os livros expostos na Estante e colecção de livros de autores que se suicidaram (2000). As obras de Fragateiro “são dispositivos que geram situações de uso efectivo pelo espectador, como se a razão da sua existência estivesse sempre vinculada a um primado do exercício de uma função, a maior parte das vezes destinando-se a serem fruidas colectivamente.” (Delfim Sardo). O desenho da estante tem duas referências reveladoras. Por um lado, replica um projeto da estante que o arquiteto Gregori Warchavchik (1896-1972) desenhou para a sua Casa Modernista (1930) na Rua Itápolis, em São Paulo. A linha contínua em forma de S, projeta a estante para a sua possível infinitude. Por outro lado, alude ao projeto Musée à Croissance Illimité (1939) do arquiteto Le Corbusier (1887-1965), no âmbito do qual novas alas do museu poderiam ser construídas para acompanhar o crescimento das suas coleções. A artista tem vindo a trabalhar na relação entre diversos universos que se ligam por pontes formais e poéticas. Os livros que figuram na estante são, como o título da obra refere, de autores que se suicidaram. Contudo, o suicídio é visto “como ato de liberdade” (Fernanda Fragateiro), que dialoga com um futuro imprevisível e infinito. A estante tem ainda espaço livre para acolher futuros autores e títulos a adicionar à coleção.
Nascida em 1962, no Montijo, Fernanda Fragateiro estudou na Escola de Artes Decorativas António Arroio (1978-81), no Ar.Co – Centro de Arte e Comunicação Visual (1981-82), e Escultura na Escola Superior de Belas-Artes de Lisboa (1983-87). Realizou diversas obras públicas, das quais se destacam: Jardim das Ondas (1998), Expo’98/Parque das Nações, Lisboa; Eu espero (1999), 5.º Simpósio Internacional de Escultura Contemporânea de Santo Tirso; Desenho Suspenso (2011), Quinta do Pisão, Cascais; Concrete Poem (2012), Vila Nova da Barquinha. Ao longo da sua carreira foi galardoada com prémios prestigiados, entre os quais: Prémio Tabaqueira de Arte Pública, Açores (2001) e Prémio AICA/MC/Millennium bcp de Artes Visuais (2017).
Hugo Dinis
Curador da exposição
Joga o Jogo: Partida… Em torno da Coleção da Caixa Geral de Depósitos,
MU.SA – Museu das Artes de Sintra
140 x 250 x 20 cm
Inv. 539307