Em homenagem à vida e obra de Manuel Baptista (Faro, Portugal, 1936 – Lisboa, Portugal, 2023), falecido a 8 de abril, a Coleção da Caixa Geral de Depósitos destaca a obra Jardim (1974), que pertence ao seu espólio desde 1988.

Entre 1957 e 1962, o artista frequentou o curso de pintura da Escola Superior de Belas-Artes em Lisboa, onde viria a exercer a docência anos mais tarde. Em 1963 foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian em Paris e em 1968 foi bolseiro do Instituto Italiano em Ravena. A sua obra pautou-se por uma investigação no campo do desenho, expandindo pela pintura, escultura e instalação. “O desenho é o eixo da actividade criativa de Manuel Baptista. Ainda quando chamamos pintura aos seus trabalhos poderíamos, sem errar, chamar-lhes antes desenhos.” (João Pinharanda, Desenhos 1969-1970, Fundação Carmona e Costa, 2011, p.9). A figuração abstrata, as formas geométricas, a relação figura-fundo e, sobretudo, os recortes tornam-se desde cedo as suas premissas artísticas. Em discurso direto o artista revela como se interessou pelo recorte: “Havia em mim uma grande apetência para as coisas tácteis. As experiências que eu faço têm a ver com muros fictícios que fazia na tela com pasta de tinta e depois pintava ou não pintava. Cheguei à tela recortada, numa altura que decidi deixar a pasta de tinta trabalhada, para a substituir por qualquer coisa que fosse recortada e que ao mesmo tempo desse uma textura na superfície, que foi o tecido.” (Moldar o desenho, Casa da Cerca, 1996, p.15). Este processo revela a importância do desenho que José-Augusto França refere: “E pondo de lado o papel e o pincel, ou os lápis, deixa ficar o que ficou.” (Moldar o desenho, p.10).

A pintura Jardim (1974) dá a entender a importância do recorte das formas como um “trabalho de desconstrução/reconstrução, de fragmentação e de re-composição.” (Bernardo Pinto de Almeida, Galeria Zen, Porto, 1988). Na edição de junho de 1974 da revista Colóquio-Artes, Rocha de Sousa já enunciava que a utilização das superfícies coloridas “exacerba-se, torna-se plural, oscila em contrastes, modela-se por vezes em sombras sujas que se sobrepõem ao perfil dos relevos e contrariam todo o jogo lumínico inicial.” (p.53)

A persistência e pertinência da sua obra fica espelhada nas palavras que sobre ela se escreveram: “O sentido original do ser no espaço vital tem sido o que mais frequentemente se exprime na obra de Manuel Baptista.” (Rui Mário Gonçalves, Colóquio-Artes, n.º 97, 1993, p.10); “A sua arte partiu duma geometria sensibilizada. Caracterizou-se, depois, por um lirismo matérico, recorrente [sic] a pedaços de panos e cordéis colados sobre as telas, os quais eram pintados posteriormente, na resultante de afirmações tácteis de formas em relevo.” (Fernando Pernes, Colóquio-Artes, n.º 62, 1984, p.27); “A liberdade do desenhador-pintor é total. Em posse dos princípios de construção da sua linguagem, importam-lhe mais os movimentos do desfolhar do plano de que resultarão as formas, do que tal forma em si valendo pelas suas características próprias.” (José Gil, Desenhos 1960-1970, Fundação Carmona e Costa, 2011, p.22). Assim se expressa uma sentida e justa homenagem. Entre 1990 e 2003 Manuel Baptista teve um importante papel na divulgação da arte contemporânea no Algarve enquanto assumiu a direção das galerias municipais Trem e Arco em Faro.

Hugo Dinis

Manuel Baptista
Jardim
1974
Grafite, lápis de cera e colagem sobre tela
130,5 x 101 cm
Inv. 276113
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