No âmbito da exposição "Thalassa! Thalassa! O Mar e o Mediterrâneo na obra de Sophia de Mello Breyner", com curadoria de Santiago Macias, no Panteão Nacional, de 11 de novembro de 2022 a 23 de abril de 2023, destaca-se a pintura Le Marais (1976), de Maria Helena Vieira da Silva (Lisboa, Portugal, 1908 – Paris, França, 1992), pertencente à Coleção da Caixa Geral de Depósitos.

Ao longo de 5 décadas, a obra da pintora oscilou livremente entre a figuração ingénua e expressiva e a abstração geométrica e espacial. A pintura Le Marais (1976) insere-se nesta última área de atuação pictórica. A superfície texturada faz sobressair uma composição abstrata poeticamente espacializada. Através dos planos de cor limitados e dos traços repetitivos e intensos, o espaço tridimensional revela uma linguagem expressiva e sentimental, plena de uma sensibilidade ambígua e calorosa. A representação do espaço abstrato emerge de uma composição rigorosa e geométrica, que constrói uma frágil e labiríntica realidade. Imbuída deste espírito enigmático, a artista expandiu a sua criatividade para obras de arte pública, tapeçarias, azulejos, cerâmicas, gravuras, que atestam a voracidade com que se dedicava à prolífera produção artística.

Nascida numa família abastada, muda-se para Paris em 1928 para estudar na Académie de la Grande Chaumière, onde conhece o pintor húngaro de famílias judaicas Árpád Szenes (Budapeste, Hungria, 1897 – Paris, França, 1985), com quem casaria em 1930. Com o despoletar da guerra, o casal muda-se para Lisboa em 1939. Nesse mesmo ano embarcam para o Brasil e fixam residência no Rio de Janeiro, até 1947. De regresso a Paris ambos os artistas obtêm a nacionalidade francesa apenas em 1956. A pintora realizou importantes exposições antológicas e retrospetivas em vida, das quais se destacam: Museu Nacional de Arte Moderna, Paris, 1969-70; Museu Gulbenkian, Lisboa e Grand Palais, Paris, em 1988; e Fundação Juan March, Madrid, em 1991. Amplamente reconhecida internacionalmente, as suas obras fazem parte de inúmeras coleções importantes em todo o mundo, entre as quais: Museu de Arte Moderna de Nova Iorque; Museu Solomon R. Guggenheim, Nova Iorque; Tate, Londres; Museu Stedelijk, Amesterdão; e o Centre Georges Pompidou, Paris.

Em 1960 e 1962, foi agraciada pelo Governo Francês com a Ordem das Artes e Letras. Posteriormente, em 1966, tornou-se a primeira mulher a receber o Grand Prix National des Arts, e em 1979, tornou-se Dama da Ordem Nacional da Legião de Honra de França. Em 1977 foi-lhe atribuída a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant’Iago da Espada e em 1988 a Grã-Cruz da Ordem da Liberdade. Também recebeu as Medalhas da Cidade de Lisboa e do Porto pelos respetivos Municípios. Em 1990 a Fundação Árpád Szenes-Vieira da Silva é fundada em Lisboa e abre ao público em 1994. Nesse mesmo ano, é publicado pela editora Skira o catalogue raisonné e monografia do seu trabalho sob a direção de Guy Weelen e de Jean-François Jaeger.

Hugo Dinis

MARIA HELENA VIEIRA DA SILVA
Le Marais
1976
Têmpera sobre papel
65 x 39 cm
Inv. 228131
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